Estudo da USP mostra que aumento do consumo de ultraprocessados eleva risco de morte precoce

Estudo liderado por pesquisadores da USP e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir de dados de consumo alimentar em oito países, mostra que a cada 10% de aumento da ingestão de alimentos ultraprocessados o risco de morte prematura sobe 3%. A pesquisa estimou que, conforme a quantidade de ultraprocessados na dieta em cada país, as mortes precoces que podem ser atribuídas a esses alimentos variam de 4% até cerca de 14%.

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Além do reconhecimento desses alimentos como fator de risco para doenças, os autores do trabalho recomendam a adoção pelos governos de medidas regulatórias e fiscais que permitam à população fazer escolhas mais saudáveis. As conclusões do estudo são apresentadas em artigo da revista científica American Journal of Preventive Medicine.

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“Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas a partir de substâncias derivadas de alimentos e aditivos alimentares cosméticos, com pouco ou nenhum alimento in natura ou minimamente processado”, explica ao Jornal da USP o primeiro autor do artigo e pesquisador da Fiocruz Brasília e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, Eduardo Nilson. “Esses alimentos são frequentemente ricos em energia e nutricionalmente desequilibrados, pois são altos em sódio, gorduras e açúcar. Eles contêm ingredientes e processos que criam produtos altamente palatáveis, convenientes e de baixo custo, com potencial para substituir alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias”.

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“As evidências sobre os riscos à saúde dos ultraprocessados aumentaram significativamente nas últimas décadas”, destaca Nilson. “Por exemplo, uma recente revisão ampla de múltiplos estudos revelou que o consumo desses alimentos está associado a risco de 32 doenças, principalmente as crônicas não transmissíveis, como obesidade, doenças cardiovasculares, doenças digestivas, diabetes e até problemas de saúde mental, incluindo depressão.”

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O estudo analisou dados de consumo alimentar e mortalidade de oito países com dados nacionais detalhados de consumo alimentar disponíveis: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Reino Unido, apresentando diferentes níveis de consumo de ultraprocessados, variando de 15% das calorias na Colômbia até perto de 55% nos Estados Unidos e Reino Unido.

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“Foi verificado, nesse sentido, que a mortalidade prematura atribuível variava de 4% até perto de 14% das mortes”, aponta o pesquisador. “Ou seja, mesmo em cenários de consumo relativamente menor desses alimentos já existe uma carga relevante sobre a saúde das populações e, quanto maior o consumo, maior o impacto na mortalidade.”

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Impacto na saúde

“Um dos resultados do estudo foi que existe uma relação dose-resposta linear entre o consumo de ultraprocessados e a mortalidade por todas as causas, de modo que, a cada 10% de aumento na participação dos ultraprocessados na dieta, há um risco 3% maior de mortalidade”, ressalta Nilson. 

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De acordo com o pesquisador, as evidências da associação do consumo de ultraprocessados com desfechos negativos à saúde vêm se acumulando, mas a verificação de causalidade ainda é um desafio, a exemplo de vários outros fatores de risco à saúde.

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“Contudo, ainda que não seja possível fazer estudos clínicos para estabelecer a causalidade para a mortalidade, por exemplo, temos um conjunto de critérios indiretos que são plenamente atendidos em relação a esses alimentos”. diz. “Por exemplo, temos estudos mostrando consistência, especificidade, temporalidade ou sequência cronológica, onde a exposição ao fator de risco, ou seja, o consumo, antecede o aparecimento da doença. Existe um possível efeito dose-resposta e já há estudos clínicos que demonstraram a relação do consumo com o ganho de peso corporal.”

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Foi possível estimar a magnitude da mortalidade prematura por todas as causas que pode ser atribuída a esse consumo em cada país, variando de 4% em países com ingestão relativamente menor, até aproximadamente 14% em países onde representam mais da metade das calorias da dieta dos adultos.

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Nilson observa que os efeitos do consumo de ultraprocessados sobre a saúde são múltiplos e provavelmente mediados por diferentes mecanismos biológicos, químicos, físicos e comportamentais.

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“Entre eles, estão a substituição de alimentos frescos e minimamente processados na dieta, o perfil nutricional desequilibrado e as mudanças físicas na matriz dos alimentos. O processamento industrial pode interferir na absorção de nutrientes, por exemplo, o suco de maçã, frequentemente usado como adoçante natural, contém principalmente frutose livre, enquanto comer uma maçã desencadeia uma resposta de absorção diferente devido às suas fibras e outros componentes naturais”, relata. “Também podem ser citadas alterações químicas associadas ao uso de aditivos alimentares cosméticos, como adoçantes, aromatizantes, emulsificantes, corantes artificiais, entre outros, e mudanças na forma de comer os alimentos, interferindo na saciedade.”

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Fator de risco

“Devido à magnitude dos impactos do consumo na mortalidade prematura, os resultados apontam que é importante que os alimentos ultraprocessados sejam reconhecidos como fatores de risco para doenças em todos os países e que sejam tratados como tal”, recomenda o pesquisador. “Em termos das políticas públicas em resposta a isso, devem ser priorizadas medidas regulatórias e fiscais, que promovam escolhas alimentares mais saudáveis, acessíveis e baratas, enquanto desincentivam o consumo de ultraprocessados.”

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Segundo Nilson, é importante educar e informar a população, seguindo as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, que tem como regra de ouro fazer da base da dieta os alimentos in natura e minimamente processados e evitar os ultraprocessados, mas essas escolhas dependem muito do ambiente alimentar promotor de escolhas saudáveis. “Como exemplos dessas políticas, temos a rotulagem nutricional frontal, como a de alertas de excesso de sódio, gorduras saturadas e açúcar, e a regulação da venda de alimentos nas escolas. Já existem legislações estaduais e municipais, mas não no País todo”, destaca.

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“Outros pontos são a regulação da publicidade, subsídios para alimentos in natura e minimamente processados e maior tributação de produtos nocivos à saúde, a exemplo do que foi aprovado na Reforma Tributária, em que alimentos da cesta básica nacional serão isentos de impostos, enquanto bebidas adoçadas serão objeto de tributação seletiva, junto com os cigarros e as bebidas alcoólicas.”

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Participaram do estudo pesquisadores brasileiros associados ao Nupens, Fiocruz, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). O trabalho teve a colaboração da Universidade do Chile e Universidade de Santiago (Chile), Universidade de Montreal (Canadá), Universidade de Antioquia (Colômbia), Universidade de Deakin (Austrália), e Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), no México.

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sourceCom informações do Governo de São Paulo

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